domingo, 31 de outubro de 2010

Um Poema do livro Lojas das Antologias

Charles e Amanda


Têm caras que não admitem perder
e esses são os piores tipos de perdedores
e para Amanda
Charles havia perdido tudo,
... o interesse, a beleza, a paixão,
a esportiva, a dignidade, o bom senso,
a honestidade, o amor, ...,
enfim a coisa toda
(caído pelas tabelas).
Simples, bastou que um dia Amanda acordasse
e dissesse: Cansei!
Pronto e Charles já era! O noivado já era!
Igual a um tropeção, quando menos se
espera, o amor chega.
Igual a um tropeção, quando menos se
espera, o amor vai.
Às vezes você até pode ir andando
de olho no caminho,
mas aí não se curte a paisagem.
“Charles, não dá mais!”
No que ele respondeu com um infame:
“Se você não for minha não será
de mais ninguém!”
Mas como para Amanda Charles havia perdido tudo
Ela achou que a coragem também era
uma das coisas perdidas.
“Cada um segue sua vida
apesar de tudo
foi bonita nossa história!”
Ela nem notou que o sangue dele ferveu.
Que suas mãos apertaram o volante
que os dentes travaram
“... e Charles, não me procure...
pelo menos por um tempo,...
depois...
quem sabe... ser amigo.”
“Amanda eu estou falando sério!”
Ela desceu do carro
Ele cantou os pneus
Ela cortou os cabelos
Ele... não sabe perder
Ele tentou mais uma vez
Amanda disse não!
E Ele chorou
e jurou
e Amanda não viu, nem ouviu,
nem ligou dessa vez:
“Se você não for minha não será
de mais ninguém!”
E foi num 20 de Dezembro
Quinze dias depois do fim,
numa festa na casa de uns amigos comuns.
Da Paula namorada do Ed.
“Amanda a gente precisa conversar!”
Ele não sabia perder!
“A gente já conversou, Charles!”
E até o fim da festa ela cedeu
pra por o ponto final.
Até aí normal!
Quando ele pegou a pista
foi o primeiro “Por Favor” de Amanda.
“Charles, onde você vai? Me leva pra casa!”
e quando ele logo saiu da pista
para um canavial
“A gente precisa conversar!”
Ele não sabia perder.
“Então, a gente podia voltar para a cidade,
parar num barzinho,
beber alguma coisa...”

Ah! Amanda isso não ia adiantar,
agora era tarde, era sem volta
e era o segundo Por Favor

“... Charles, por favor!”
Então ele parou o carro,
“Você me ama? Quer voltar a ser minha noiva?
Quer casar comigo? O que foi que eu fiz?”
E ela chorando:
“Você não fez nada, acabou Charles,
só isso!”

Agora ela viu a arma.

“Pelo amor de Deus, Charles!”
Ele não sabia perder –
(Se eu falasse em demônios na garrafa
em alienação das revistas
Eu só estaria fugindo do assunto
se eu falasse do comercial News Cars,
de um novo alisamento, celular, luz que pisca,
alienação, suaves parcelas,Taurus e DietShake...
Eu só estaria fugindo do assunto
alguém dirá que eles não valiam
três páginas
que um poema é demais,
nada em seus nomes
Mas eu só estaria fugindo do assunto.)

“Volta pra mim Amanda!”
“Charles, pelo amor de Deus, guarda essa arma!”
Ele não sabia Perder:
“Volta pra mim Amanda!”
E antes do terceiro pelo amor de Deus,
Charles disse:
“Eu te falei, que se você não fosse minha,
não seria de mais...”
E atirou na barriga dela,
mais um tiro, agora no peito
Ela o encarou e ele atirou outra vez,
agora na cara.
“... de mais ninguém!”
Colocou o cano quente na própria boca
e puxou o gatilho pela quarta vez!

E ficaram assim,
um olhando pro outro, como se
não acreditassem no que haviam
perdido
No que havia acontecido
cada um apoiado no vidro do pequeno Renault
e assim por uma semana.
As famílias não queriam acreditar
no que podia ter ocorrido
achavam até que os dois
poderiam ter feito as pazes
e fugido
Só depois do Natal é que deram queixa formal
E no dia 31 a polícia achou o local
“Charles e Amanda cheiravam mal”
foi o que escreveram no jornal
retratando-os
como um caso banal
de crime passional
E como ele não sabia perder
foram velados juntos,
e enterrados juntos,
como noivos,
ex-noivos,
amantes,
amigos,
inimigos
dividem hoje
o mesmo jazigo.

25/01/10
J.R. Bazilista

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