domingo, 25 de setembro de 2011

(Até a semana passada esse texto era tido como ultraviolento, depois de quinta - feira ele é até fofinho!)


BANG BANG KID



A criança ganhou da mãe uma caixa de presente. Ao abrir, viu o revólver com coldre, cinto e munição. Ele já tinha botas e chapéu. Não era aniversário, nem feriado.




Ele correu pro quarto, colocou chapéu, as botas, afivelou o cinto, tirou o revólver, destravou o tambor e carregou. Arriscou rodar no dedo e conseguiu, mas não antes de ajeitar o chapéu com o cano, daí sim girou e guardou, queria até ter dois.

O primeiro a morrer foi o Ursinho , balaço na testa. Temeu que o barulho alertasse os peles vermelhas.


Pensou em fazer mira no batente da porta, mas não era assim que um Cowboy matava. Entrou na sala como quem entra no saloon, suas botas e espóras ecoavam pelo assoalho. A mãe sorrindo levou o seu também, na testa. Decidiu que só mataria assim, sua assinatura: o Z do Zorro, o Dólar Furado. Assoprou o cano. A mãe caída por cima da mesa espatifada.

Num giro rápido se livrou da machadinha que a avó lançara da porta da cozinha, cravara no sofá. Na testa, BANG!

Pulou no sofá, o encosto, e atrás da pedra e aguardou. Poupou a bala do coiote negro que miou em agradecimento. O pai não teve a mesma sorte, que ao sair do banheiro levou a sua, BANG! Xerife também morre.


O irmão logo chegaria, tinha certeza. Abriu o tambor e conferiu duas balas, tirou outras quatro do cinto, rodou e fechou.

Nem bem caiu a noite e uma grande lua subia pro céu. Quando ouviu o barulho da porta sendo destrancada. A porta abriu lentamente mas ninguém entrou, um segundo, dois, e nada. Então o tiro lhe raspou o braço, “Maldito Apache!”, e ao cair atirou, a luz da lua havia prateado o rifle e denunciado o irmão na escuridão da encosta, BANG!

A mãe o mandou lavar as mãos para jantar.

Não havia deixado ninguém para contar a história. Mataram seu cavalo, não havia perdão!

Caminhou pelo entardecer.

THE END

J.R.Bazilista 05/09/11

Fido Karlo - Autorretrato: Depois de receber MAIS UMA RECUSA de uma editora!





quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Com os olhos que a terra há de comer!



Quando se tem e não se tem

Ele estava sentado no banco. A perna direita cruzada sobre a perna esquerda.

Era justo a perna direita que ele não tinha. O que havia ali era uma prótese que a barra da calça levantada só permitia ver do “joelho” pra baixo, uma espécie de plástico até o meio da canela e dali até o pé um cano e o pé, também plástico, ou fibra...

O conjunto todo me parecia um ex-voto de um triatleta que havia perdido a perna prum tubarão em algum lugar dos anos 80.

Mas nada disso tinha chamado minha atenção, cutucado meu espanto e nenhuma dessas linhas seriam escritas se naquela manhã de inverno e sol, ele sentado ali não estivesse tão distraidamente, alheio a minha presença ou a presença de qualquer outro, a coçar a perna de plástico.

04/07/11

J.R.Bazilista